No dia seguinte tudo recomeçava no mesmo ponto onde tinha
ficado. Foi no meu mundo real que me apaixonei pela primeira vez. Mas foi no
meu sonho que fui correspondida por esse amor. Foi no meu sonho que recebi o
primeiro beijo, foi no meu sonho que aprendi
a fazer amor…. De dia sofria
sempre que tinha de partilhar a sua
atenção com mais alguém , no meu sonho não existia mais ninguém. Só eu e aquele
amor. Um amor que nem sempre tinha rosto. Um amor por vezes sem forma física , mas tão intenso tão grande tão real, que, mesmo sendo um
sonho me enchia de felicidade e me fazia amar a vida. Foram esses momentos a sós que me prepararam para a vida. Foi assim que construí a
minha personalidade e foi graças a tudo o que sonhei,que sou o que sou
hoje. Durante anos arrastei-me
pela vida, fazia as coisas mecanicamente, por obrigação, porque me mandavam e
tinha de ser assim.Agora olhando para trás penso que talvez tenha sido
demasiado protegida.Não era fácil conseguir autorização para sair de casa. Nas poucas vezes que me concediam alguma liberdade, as recomendações e os avisos eram tantos. que eu saia daquele castelo aterrorizada com o que poderia encontrar para lá das muralhas, que meus pais ergueram a minha volta. O rosto de preocupação da minha mãe seguia-me assombrando aquilo que deveria ser uma libertação. Como não tinha um verdadeiro quarto , também nunca convidei uma amiga para vir dormir comigo. Nunca tive a oportunidade de
trocar as confidências nem ter conversas até o sono nos vencer. O meu divã parecia demasiado pequeno para ser partilhado e no
entanto, dentro dele cabia um mundo que só eu conhecia. Durante muitos anos
guardei ali a minha vida...lágrimas alegrias e medos ficaram para sempre presos naquelas palhas.... dou por mim a pensar se ainda existe. Quando finalmente meus pais me puderam dar um quarto, uma mobilia nova que eu mesmo escolhi ... eu esqueci-me dele . Sei que foi oferecido a uma família para deitar uma criança. A história desta cama que me acompanhou durante anos não terminou comigo, outros sonhos acolheu outras lágrimas enxugou. Isto agrada-me, não gosto de imaginar o fim de nada . Se pudesse voltar atrás não o teria dado. Mas naquela idade nós não nos apegamos as coisas. Este apego por tudo o que é nosso vem com a idade e vamos-nos tornando cada vez mais egoístas ...
É curioso que acho que estou mais desapegada com o passar dos anos. Não adianta apegarmo-nos às coisas. Passe o lugar-comum, nada é verdadeiramente nosso!
ResponderEliminarBeijinhos ;)