quarta-feira, 24 de julho de 2013

               Não sei exactamente quando tomei contacto com a realidade. Mas, aos poucos o meu sonho foi acontecendo no real e eu deixei de sentir necessidade de me isolar de construir o meu mundo. Já não queria estar sozinha já não procurava o meu cantinho no corredor… chegaram as primeiras cartas de amor. Chegaram as primeiras atenções os primeiros ciumes as primeiras disputas… era amada .Incrível! Então o coração também podia bater fora do meu mundo imaginário? Havia vida fora do meu sonho. Senti o meu primeiro beijo.Já tinha beijado tantas e tantas vezes, pensava eu… mas nada me preparou para aquele momento real.
             Depois desse dia muitas experiências se seguiam umas atrás das outras,um turbilhão de emoções e experiências… a minha vida começava mais tarde.Vivia agora pela primeira vez tudo o que as minhas amigas tinham vivido muito antes. Mas hoje, a realidade é diferente e vejo que afinal não foi assim tão mais tarde... Na adolescência, semanas meses ou anos não parecem ter a mesma duração que tem agora. O tempo parecia passar tão devagar e hoje queremos agarra lo e não somos capazes. O "tempo" é certamente o mesmo, nós é que ficamos lentos para o seguir...apetece gritar, Pára! Mas nada o demove da correria desenfreada que iniciou. Ainda bem que não temos consciência dessa passagem repentina. Fico triste e mergulho na melancolia quando dou conta dessa passagem e olho para tudo o que  se perdeu, no tempo, claro. Não sei quando vocês sentiram a ordem de partida da vossa corrida mas, no meu caso, parece ter sido depois dos 18 anos. Até ai tudo me parecia lento...as férias nunca mais chegavam, a escola nunca mais acabava, eu não crescia para poder fazer as coisas dos adultos... ai se eu pudesse avisar a minha filha que não lhe peça para correr. Vejo-a com a mesma pressa que eu sentia,, sem ter consciência que um dia ele,o tempo, a vai ouvir e nunca mais vai abrandar. Inevitável ... 
          Naquela altura só pensava que o meu momento chegara. Quem teria mudado? Eu? Estaria diferente? Seria agora uma mulher e os outros viam-me como tal? Uma coisa eu sabia. Olhava-me no espelho e gostava de mim. Despertava cada dia pronta para absorver tudo o que a vida me oferecia . Queria viver ! Viver!  Viver! Mas porque só agora ? Talvez a imaturidade da infância e da pré adolescência, não permitisse ver para além dos meus defeitos. Hoje entendo que quando somos jovens o aspecto fisico tem muita mais importância. Só com a idade aprendemos a dar valor a outras qualidades. Estaria a acontecer isso comigo agora? Diziam que até era uma menina bonita e sinceramente em nenhum momento me lembro de desejar ser diferente.Isto pode parecer estranho mas eu aceitava-me tal com era e sou e aprendi a tirar partido do que tinha de melhor e disfarçar os meus defeitos. Não recordo uma adolescência amarga. Não aconteceu de certeza. Sempre me senti integrada e querida pelos amigos. Era feliz isso não tenho dúvida. Hoje a felicidade não é uma constante,mas compreende se. O peso da responsabilidade e preocupações nem sempre nos dão essa paz de alma necessária a felicidade. Continuo a gostar de mim exactamente como sou  e mais uma vez não mudaria nada. Sei que parece inacreditável. mas acho que nem as muletas eu mudaria. Não seria quem sou se não existissem. Não me definem nem posso dizer que são parte de mim como um braço ou uma perna...mas efectivamente são "parte de mim"... 
        Quanto mais amadurecia mais sentia o apelo de  procurar o amor verdadeiro. Fui tendo alguns namorados. como era suposto na minha idade. A minha liberdade alterou se. Tinha agora autorização para sair, embora com regras e hora marcada para chegar a casa… podia conhecer pessoas. Sabia que mais tarde ou mais cedo o  amor ia aparecer e quando acontecesse sabia que estava pronta para o prender e nunca mais deixar fugir....(cont...)


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