sábado, 24 de agosto de 2013
quinta-feira, 15 de agosto de 2013
Agradeço a todos
os que me tratam de igual para igual e não me falham quando digo “ não posso
fazer isso” respondendo “podes porque eu
vou ajudar-te”. A estes eu agradeço do fundo do coração. Amigos e todos aqueles
que mesmo não conhecendo passam pelo mundo atentos aos pedidos de ajuda e se disponibilizam para isso. Agora não me peçam para agradecer aqueles
que nos vêm como uma coitadinhos e insistem em levar nos ao colo. Humilhante! Choca meus amigos? Era bom que isso acontecesse e esta sociedade fizesse alguma coisa. Ponham -se no lugar de um deficiente em cadeira de rodas..perguntem-se se é melhor ser carregado ao colo pela família ou amigos para subir escadas , deslocar se a praia etc... ou se o ideal seria ter os devidos acessos para que o possa fazer com o mínimo de dignidade como qualquer outra pessoa.
Não critico aqueles que
perguntam : O que lhe aconteceu? Mas, critico aqueles que olham e olham e
olham…e de repente desviam o olhar disfarçando atabalhoadamente quando o
nosso se cruza com o deles. Olhem a vontade!Afinal de contas a diferença existe e é normal que desperte a curiosidade.Vocês entendem a diferença? Só quero que percebam o que realmente nos
incomoda.
Não me incomoda a criança
que me vê e pergunta a mãe “o que é que a senhora tem?”, mas incomoda-me a mãe
que a repreende em voz baixa para eu não ouvir e que quase a esbofeteia se ela
insiste em querer saber porque … porque … porque …
O que podemos esperar desta criança quando for
adulta? Que aceite os deficientes como parte da sociedade ? Não me parece que
este seja o caminho para educarmos os nossos filhos para a igualdade.
Falamos tanto de
integração dos deficientes . Mas integração em que? Estão a fazer um favor ao nos dar
trabalho? Não seremos nos capazes de
trabalhar tão bem ou melhor que qualquer outra pessoa? Não podemos fazer tudo.
Pois não. Cada individuo procura fazer o que esta de acordo com as suas
capacidades. Não funciona assim com toda a gente? Se tens problemas de coluna vais trabalhar para as obras?Ou procuras um trabalho que possas fazer?
No nosso caso parece que não é assim...Não temos um simples problema de coluna amigos, logo, somos incapazes e ponto.Temos que nos esforçar muito mais para conseguir um
trabalho e por vezes este só aparece, porque as empresas estão de olho nos
subsídios,que o estado dá de incentivo para que se empreguem os coitadinhos. Mais uma humilhação.Estamos ali e ganhamos o nosso
ordenado bem merecido e por mérito próprio, mas nunca deixamos de nos
sentir agradecidos pelo grande favor que
nos fizeram em nos dar emprego. Eu Felizmente sou um dos poucos casos com trabalho e sem esse beneficio...Obrigada aqueles que me empregaram sem medo da diferença e sem pedir ou esperar compensações, a não ser as que vem do meu trabalho.
Que sociedade esta!
Tenho eu 37 anos 34 dos quais vividos na condição de deficiente e ainda hoje
não consigo deixar de me surpreender com as supostas regalias que temos. Para aqueles que ainda acreditam que elas são reais,vou deixar aqui algumas passagens da minha vida, em jeito
de anedota, porque na realidade alguns benefícios não passam disso mesmo.
Anedotas!
Um dia destes desloco-me como tantas
vezes o faço a uma grande superficie na zona onde habito.Chegando ao local verifico que o parque de estacionamento tem local
próprio para deficientes senhoras grávidas
e acompanhantes de crianças de colo. Até aqui tudo muito louvável e
semelhante a tantos outros locais pelo pais. Não estava no meu carro habitual e
não era eu a condutora mas sendo deficiente estacionamos no local que me estava
destinado. Ao sair do carro sou abordada por um segurança que me pede para colocar
o dístico de deficiente. Explico então que o carro não é meu e não tenho ali o
comprovativo de deficiência, mas o senhor esta a ver-me e portanto não há duvida
que sou deficiente. O segurança,mesmo perante a evidência insiste que não
posso estacionar ali. Sei as regras de transito e como é óbvio não
estacionaria naquele local se não estivesse num parque privado. Será que aquele
senhor precisava que eu colasse um cartaz na testa a dizer “sou
deficiente”? Já irritada
perguntei-lhe como se identificaram as pessoas que estacionaram no local
destinado as grávidas e as crianças de colo.Não vi atestado. Foi pelo tamanho avançado ou
não das suas barrigas? Qual foi o critério que usou? Não obtive resposta pelo que presumi que aquele segurança olhou e
viu que estavam grávidas mas olhando para mim de muletas não conseguia ver que
era deficiente. Sem mais discussões
retiramos o carro do lugar de deficiente e estacionamos precisamente no lugar para as senhoras
grávidas. Se aquele senhor tinha duvidas que me pedisse uma ecografia...Gravida não estava mas parece que o carro finalmente ficou bem estacionado. Apesar de indignada naquele
dia não apresentei reclamação .
Qual não é o meu
espanto quando dias mais tarde volto ao mesmo local, desta vez já no meu carro, e vejo no
parque para deficientes um cadeado a impedir o acesso e um cartaz que diz: “se
deseja estacionar neste local por favor dirija-se ao balcão de informações”. Fico um tempo parada a olhar para aquilo
incrédula com o absurdo que leio. Então o que é suposto fazer agora? Vou procurar um lugar
para estacionar seja lá onde for,saio do carro de muletas, atravesso o parque de estacionamento,
atravesso metade do shoping e chego finalmente ao balcão de informações. Estou 10
minutos em pé a espera da minha vez para ser atendida e mais 10 minutos a espera que
chegue o segurança, que a menina chamou pelo intercomunicador e que
supostamente tem a chave que abre o cadeado . Depois disto, há que iniciar o
percurso de regresso ao carro,retirar do estacionamento e estacionar no
lugarzinho para deficientes religiosamente guardado. E a saída não esquecer de passar primeiro no
balcão de informações para o segurança vir de novo retirar o cadeado porque se me esqueço tenho de voltar para trás Ora eu
fiz isto de muletas agora imaginem o que seria se estivesse numa cadeira de
rodas as vezes que teria de entrar e sair da cadeira e o incomodo de pedir que
me tirem e guardem a cadeira na bagageira se não tiver elevador. Mas alguém tem a noção do que é ser
deficiente? Alguém pára para pensar quando se lembra de fazer uma coisa
destas ou criar um "beneficio"? Desta vez decidi mesmo
apresentar a minha reclamação e dias depois provavelmente devido a minha e
outras reclamações, o cadeado foi retirado.
Volto a lembrar, antes de ajudar certifiquem se que sabem o que estão a fazer ou será melhor nada
fazer. Destes episódios tenho vários ao longo de toda a vida.
Certo dia, tinha
uma consulta marcada e com a devida
antecedência apresento-me na recepção do hospital,coloco-me na fila das
consultas aguardando a minha vez. Uma funcionária do hospital, muito
atenciosa, dirige-se a mim e diz-me
“venha comigo a senhora tem prioridade”. Agradeço a amabilidade e ela entrega o meu cartão a colega da fila do
lado que supostamente me atenderia mais rápido. Manda-me sentar mas eu já habituada a estas "ajudas", achei melhor
aguardar em pé para não ficar esquecida. Assim vai notar a minha presença, pensei eu. Vou
vendo o cartão pousado em cima da secretária e a funcionária atendendo outras
pessoas sem sequer olhar para ele. Entretanto a fila do lado onde eu estava
anteriormente continuava a avançar e
alem de já ter chegado a minha vez já tinham passado 5 pessoas a minha frente. Resultado, a consulta iria ser mais tarde, do que se
tivesse permanecido na fila em que estava. Começo a ficar impaciente mas afinal
que raio de prioridade é esta? Tenho que falar. Explico então a senhora que já
podia ter sido atendida, que já me atrasou a consulta e que afinal estou a mais
tempo em pé do que estaria no outro lado. “Eu disse a senhora que se sentasse”
responde ela. Ora. chego então a conclusão, que a minha prioridade não estava no
ser atendida mais rápido mas sim o poder esperar sentada até que a senhora se
lembrasse do meu cartão.Se calhar ainda
lá estava agora a espera da consulta mas
sentadinha confortavelmente na cadeira de madeira…
Por estes e por outros
incidentes é que raramente exerço esse suposto direito de prioridade e quem verdadeiramente me conhece sabe disso. Na tentativa de nos ajudar acabamos por sair
prejudicados. As pessoas não sabem o que fazer para realmente ajudar e esta educação para a diferença cabe a todos nós enquanto elementos da mesma sociedade...(continua)
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