Apesar de muitos acharem o contrario, eu
fui realmente muito protegida durante a minha infância e adolescência. Acho que
tive uma dose de educação bastante equilibrada. Proteçao do mundo exterior e
muita, não posso dizer liberdade ,pois liberdade dentro de quatro paredes é
relativa, mas muita responsabilidade. Fora de casa a minha vida resumia-se a
escola e mesmo assim durante muitos anos a deslocação para a escola e regresso
era sempre acompanhada. Ate um dia , com os meus 14 anos eu ter dito que não
queria que me levassem porque sentia vergonha. Nenhum dos meus colegas tinha
essa atenção mas os meus pais tinham medo que eu caísse ou partisse uma muleta e
não pudesse voltar para casa. Naquela altura não havia telemóveis e foi difícil
ganhar essa batalha, mas aos poucos lá foi acontecendo mas sempre com a minha
mãe ao portão aflita a ver as horas de eu chegar.
Quando havia algum passeio
escolar ou algum convívio com os colegas de turma , era muito difícil eu
conseguir que me deixassem ir . Hoje confesso aqui que menti muitas vezes ao
dizer que era obrigatório, ou que era uma visita de estudo e depois tinha de fazer
um trabalho sobre o que íamos visitar. Se não fosse não fazia o trabalho e
reprovava. Só assim eu tinha um pouco de liberdade embora meus pais ficassem
apreensivos, não tinham outro remédio. Fora de casa consideravam-me incapaz
de andar sozinha de fazer as coisas...em casa era obrigada a fazer tudo e já
não era deficiente nem precisava protecção. Isto era muito difícil de entender .
Era capaz para umas coisas e outras não. Sentia-me explorada . O meu irmão
passava os dias fora de casa na brincadeira com os amigos e eu em casa a
trabalhar ou a estudar. Quando ia brincar com alguma vizinha , isto depois de
ter feito tudo o que minha mãe pedia, para ela ficar contente, a sensação que
tinha era que mal tinha começado a brincar já ela me ia buscar. As vezes ainda
nem tínhamos montado a nossa “casinha” com todas as panelas e caminhas de
boneca e já tinha de ir, deixando a amiga triste e eu lá ia para o meu casulo a
chorar. Que ódio daquela mulher que não me dava descanso.
Alguém sabe realmente o que é ser um bom
pai ou uma boa mãe? Ninguém nos prepara para essa tarefa. Muitos de nós vamos alimentando esse sonho e um dia acordamos e temos nos braços uma
criatura indefesa, totalmente dependente de nós. Quando isto me aconteceu eu
senti-me inútil, incapaz,um medo terrível de não ser capaz. Pode ter sido uma
fracção de segundos mas a mim aconteceu e a única coisa que me acalmou nesse
momento foi pensar...calma tens a tua mãe para te ajudar. Ela vai saber o que
fazer. A mesma mãe que por vezes eu não conseguia entender quando me obrigava
a fazer certas tarefas, a mesma mãe com quem me revoltei tantas vezes por não
entender o seu ponto de vista...foi nela que eu pensei naquele momento, foi
nela que eu confiei para me ajudar com minha filha. Afinal ela esteve sempre
certa! Muitas vezes foi criticada, por mim, pelos outros e até pelo meu pai...Obrigava-me
a lavar e estender a roupa,isto num tanque onde a agua tinha de ser puxada do
poço pela força dos braços, e eu de muletas. O mais difícil era na hora de
estender,tentar equilibrar-me numa só perna e com ela ao meu lado a dizer:não
te pendures na corda que rebenta. Se a roupa cair no chão vais lavar de novo.
Madrasta pensavam os vizinhos. Como pode fazer aquilo a filha? Coitadinha é
deficiente. Eu não entendia. Juro que a odiava naquele momento. Então ela
levava a bacia da roupa até ao estendal e ficava ali o tempo todo a ver-me
estender...porque raio não estendia ela? Preguiçosa. Quer é uma criada! Obrigava-me a lavar a loiça a limpar toda a
casa de joelhos...tantas vezes o meu pai entrava em casa e gritava: já te disse
que não quero ver a miúda de joelhos! Ao meu pai ela mal respondia mas também
não lhe obedecia e eu desgraçada continuava a ter diariamente as mesmas
tarefas. Aos vizinhos esses sim , se a questionavam ela muito seca dizia: ela
pode fazer tudo. Não é nenhuma coitadinha e quando eu cá não estiver como é que
vai ser? E eles calavam-se claro, mas notava-se no olhar deles a critica e eu
ainda me revoltava mais contra ela . afinal eu estava certa , os vizinhos
também não achavam bem todo aquele trabalho...
No momento em que peguei a minha filha
no colo e me lembrei daquela mulher eu entendi tudo o que esta grande senhora
fez por mim. Obrigada mãe desculpa a minha raiva as minhas fúrias contra ti. Hoje
sou o que sou porque tu sempre acreditaste em mim, sempre me levaste ao limite
das minhas forças. Foste dura, fria, intransigente mas era esse o caminho mãe.
Não sei como aprendeste, não sei quem possa ter te ensinado.
Quem nos prepara para acolher um filho? Pior ainda quem nos prepara para acolher de um dia para o outro um filho deficiente? Tal como eu tu também foste mãe muito jovem e longe da família, do teu país. Ao contrario de mim tu não tiveste a tua mãe do lado quando os teus filhos nasceram. Não sentiste o mesmo medo? Como acalmaste o teu coração mãe? Eu já fui a tua segunda filha e no inicio tudo correu normalmente. Dois filhos lindos perfeitos, o sonho de qualquer família...Um dia o teu sonho acabou. Deitas a tua filha e ela acorda doente e o pesadelo da recuperação começa e nunca mais acaba. Tanta esperança desfeita, tanta tentativa inútil. Tu nunca quiseste desistir mãe se havia esperança num tratamento ou numa cirurgia tu acreditavas.
Fui eu com os meus 18 anos que disse Basta! Fui eu que me resignei e aceitei como sou! Não conheço os tratamentos agora . Dizem que a medicina avança. Muita coisa pode ter mudado. Talvez, no meu caso podia ter alguma evolução...talvez, talvez...não quero isso para mim. Decidi não me sujeitar a mim e a minha família a essas incógnitas. E porque podem vocês questionar? Mais uma vez devo isso a minha mãe e faço vos uma outra pergunta. Para que? Porque me vou eu sujeitar a mais investigações, tratamentos, cirurgias, etc...para que?
Não preciso! Não me faz falta! Não há
nada neste mundo que não possa fazer com as muletas...não me incomodam. E a
quem se deve esta atitude? Aquela que criticaram e apelidaram de
madrasta...minha MÃE. Só tenho uma palavra OBRIGADA.
Quem nos prepara para acolher um filho? Pior ainda quem nos prepara para acolher de um dia para o outro um filho deficiente? Tal como eu tu também foste mãe muito jovem e longe da família, do teu país. Ao contrario de mim tu não tiveste a tua mãe do lado quando os teus filhos nasceram. Não sentiste o mesmo medo? Como acalmaste o teu coração mãe? Eu já fui a tua segunda filha e no inicio tudo correu normalmente. Dois filhos lindos perfeitos, o sonho de qualquer família...Um dia o teu sonho acabou. Deitas a tua filha e ela acorda doente e o pesadelo da recuperação começa e nunca mais acaba. Tanta esperança desfeita, tanta tentativa inútil. Tu nunca quiseste desistir mãe se havia esperança num tratamento ou numa cirurgia tu acreditavas.
Fui eu com os meus 18 anos que disse Basta! Fui eu que me resignei e aceitei como sou! Não conheço os tratamentos agora . Dizem que a medicina avança. Muita coisa pode ter mudado. Talvez, no meu caso podia ter alguma evolução...talvez, talvez...não quero isso para mim. Decidi não me sujeitar a mim e a minha família a essas incógnitas. E porque podem vocês questionar? Mais uma vez devo isso a minha mãe e faço vos uma outra pergunta. Para que? Porque me vou eu sujeitar a mais investigações, tratamentos, cirurgias, etc...para que?
Texto fenomenal, inclui sentimentos reais e vivências reais, só é pena que algumas pessoas copiem estes textos para face e outras redes sociais.
ResponderEliminarBoa intenção?
Carinho?
Talvez mas continua a ser plagio. Só para finalizar fazer isso não ajuda.
Por favor sra Ana me perdoe o comentário mas achei de mau tom o copy paste que vi, este texto é muito especifico logo não deve ser usado só porque sim.
Atentamente
R.S. Comprimentos